terça-feira, 15 de outubro de 2013

Pi



Quando os cogumelos fizeram efeito, entrei em uma longa viagem.
A primeira durou três dias, até que fui expulso da comunidade.

Na primeira noite estava eu subindo a colina quando fui surpreendido pela Lua cheia.
Cai de costas como que repousando em um colchão de ervas no chão.
Fiquei lá por éons.

Então me levantei e subi mais na colina.
Chegando ao estábulo olhei para uma estrela, fixo.

Subitamente meu pensamento começou a acelerar. Uma mensagem com sentido chegou cada vez mais rapidamente enquanto fixava a estrela, a ponto de eu não poder mais entender. enquanto a mensagem vinha Ela era tão forte que me empurrou contra a parede do estábulo.
Voltei a mim pouco depois. 
Lá embaixo a fogueira do aniversário.
Começei a descer a colina e entrei em um mundo pré-histórico, 
um caçador voltando para seu grupo ao redor da fogueira.

Mas não cheguei a fogueira. 
No meio do caminho havia uma trilha e um gato. 
O gato me levou para outra casa e fiquei em uma rede até a madrugada.

No terceiro dia da Páscoa de 1983 cheguei ao chefe da comunidade e perguntei: "A quem agradeço?"

Ele olhou para mim com um trejeito e disse: "hoje não é o seu dia livre?"

Olhei então para o lado, e um grande bosque se apresentava. 
Segui margeando o bosque até uma ladeira que levava a uma garagem.
No meio da ladeira entendi que deveria morrer.

Mas como fazer isto pensei?.

Longos minutos, estático, até que me atirei ao chão, 
como um pedaço de pau caindo.
 Bati minha cabeça, meu queixo nas pedras, 
sentindo por três vezes o meu corpo contra o chão.

Abri os olhos, estava vivo.

Me levantei e segui subindo a ladeira. 
No fim da ladeira, para baixo do morro, havia uma piscina abandonada.
Desci até lá e fiquei em pé na borda, olhando para a água.

Me joguei na água como havia me jogado no chão, 
o corpo caindo reto e batendo de barriga na superfície.

Boiei de bruços. 
Meus óculos continuavam em meu rosto.
Pensei: agora vou tirar todo o ar dos pulmões e então respirarei áqua e morrerei.

Expirei o ar e meu corpo afundou devagar, até bater no fundo da piscina.
Por uns momentos ainda pensei: agora vou respirar água. 
Quando respirei o corpo automaticamente reagiu 
se posicionando como um feto, 
apoiando-se no fundo e dando um pulo para a superfície.
Estava com a água nos quadris.

Olhei a piscina, e havia o outro lado onde era mais fundo.

Começei a me dirigir para o outro lado, 
movimentando-me na água verde de algas, 
até que atingiu o pescoço.

Então fiquei imobilizado. 
Não conseguia ir para a frente e meus braços estavam em cruz.

Ainda estava de óculos, e uma aranha pequena, 
que voa com sua seda para se colocar em algum lugar prendeu-se na haste.

Onde vai Anugit? ela perguntou

Vou me matar

Por quê?
 ela disse

Porque quero conhecer o outro lado.

Então a aranha falou longamente comigo, 
explicou-me coisas que só entenderei na morte, 
e disse: agora você quer continuar?

Eu respondi: não, 
quero voltar e ajudar meus amigos.

No que pensei meu corpo se libertou do congelamento 
e começei a andar para trás, fazendo uma curva até chegar a borda da piscina.
De costas me levantei e sai dela. 
O céu estava encoberto de carneirinhos e uma imensa felicidade em mim.
O céu se abriu e um raio de sol brilhou em minha face.

Foi aí que morri.

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