sábado, 19 de setembro de 2009

Arquivo X


Todas as palavras e fatos aqui descritos vieram de minha mente no intuito de deixar marcada a minha passagem por este planeta.
Qualquer possibilidade de alguém descrito neste livro não ser como o descrevi é verdadeira. Pois as descrições e imagens são subjetivas, próprias da minha apreensão da realidade em dado momento.

Assim, comecemos...



Um final de tarde, em uma estrada do interior próximo a São Paulo.
A comunidade existiu em um local chamado de “Morada do Sol”. Um grupo de três núcleos de construções acima e abaixo de um morro. Um antigo clube de campo, com uma grande piscina e construções abandonadas de bocha e jogo de ferradura.
No topo a antiga sede do clube. Apartamentos construídos para a família dos dois irmãos que lideravam a comuna, mais os escritórios. Para o lado, em outro topo de morro, um estábulo que ajudei a construir e descendo um pouco outras casas-dormitório.
Continuando pela estrada interna, ao pé do morro, o espaço amplo e coberto que servia de refeitório e local de encontro da comuna. Um sino para marcar os acontecimentos.
Anexo, o salão fechado de grupos de crescimento, que poderíamos chamar de local de culto, se fosse um culto o que fazíamos nos campos de energia que lá se realizavam.
Naquele dia descia depois do trabalho com os cavalos, pela estrada que margeava por fora da comunidade, e me sentia muito bem pelas realizações do dia. Estava feliz como dificilmente conseguia ficar, pleno de vitalidade e esperança.
Os dois se aproximaram a cavalo, no garanhão inglês de Someesh.
Pantene me ofereceu os cogumelos que encontrara. Três cogumelos, os primeiros descobertos perto da comuna naquela estação. Ele não queria usá-los, acredito que estava com medo, e sua companheira tinha outros interesses do que usar cogumelos.
Eu aceitei os cogumelos, pois parecia um presente para a finalização daquele dia.
Por que eu peguei a estrada de fora e não a que passava por dentro da comuna? Por que resolvi descer naquela estrada e acabei por encontrá-los voltando de um passeio?

Vai saber...
Como dizia o professor de biologia do Bandeirantes.
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Pantene era o companheiro de Somesh, seu preferido, e sua companheira o grande amor que entrava na disputa.
Aquilo tudo oferecia para mim razões que não poderia entender no momento. Apenas aceitei os cogumelos e fiquei feliz com a droga que usaria à noite.
Eram poucos, não haveria como dividi-los na minha mesquinhez, então decidi que os comeria sozinho, sem contar a ninguém naquela noite, antes da festa de aniversário de Prabhuda.

Retornei ao alojamento, e após o banho preparei os cogumelos ao natural, engolindo-os inteiros com pedaços de laranja.
Ninguém sabia disto. Ninguém soube até duas horas depois, quando já estava maluco no jantar e contei para o Tim, meu camarada. Ele e Themis me levaram então para um passeio no alto do morro, em direção a fogueira da festa do Prabhuda.

Estávamos longe da festa, no alto do morro, quando olhei para o céu. E a Lua Cheia, na beleza imensa de aparecer naquele momento me derrubou para trás.
Exclamei Óh!... e cai em um leito macio de erva, como recebido em uma cama preparada para mim.
Themis e Tim queriam me tirar daquela posição para continuarmos em direção a festa, mas pedi para ficar, e por éons contemplei a Lua, recebendo cada onda de sua luz em meu corpo estendido no chão.

Foi lá que se iniciou minha entrada nas Portas da Percepção. Céu e Inferno se abriram naquele dia, e continuam nesta minha trilha solitária no mundo virtual de nosso planeta.

Mas como assim? Estás doido?

Estou. Estou desde então, e nunca mais voltei.
Aprendi a viver no mundo dos desdoidos. Dos doidos e malucos que aceitaram que tudo é: normal, não maluquice.

Dos doidos que acham que tudo é maluquice e nada é normal.
A história da conversa com a formiguinha fica para depois...