As Coisas Transitórias
- Irmão,
- nada é eterno, nada sobrevive.
- Recorda isto, e alegra-te.
- A nossa vida
- não é só a carga dos anos.
- A nossa vereda
- não é só o caminho interminável.
- Nenhum poeta tem o dever
- de cantar a antiga canção.
- A flor murcha e morre;
- mas aquele que a leva
- não deve chorá-la sempre...
- Irmão, recorda isto, e alegra-te.
- Chegará um silêncio absoluto,
- e, então, a música será perfeita.
- A vida inclinar-se-á ao poente
- para afogar-se em sombras doiradas.
- O amor há-de ser chamado do seu jogo
- para beber o sofrimento
- e subir ao céu das lágrimas ...
- Irmão, recorda isto, e alegra-te.
- Apanhemos, no ar, as nossas flores,
- não no-las arrebate o vento que passa.
- Arde-nos o sangue e brilham nossos olhos
- roubando beijos que murchariam
- se os esquecêssemos.
- É ânsia a nossa vida
- e força o nosso desejo,
- porque o tempo toca a finados.
- Irmão, recorda isto, e alegra-te.
- Não podemos, num momento, abraçar as coisas,
- parti-las e atirá-las ao chão.
- Passam rápidas as horas,
- com os sonhos debaixo do manto.
- A vida, infindável para o trabalho
- e para o fastio,
- dá-nos apenas um dia para o amor.
- Irmão, recorda isto, e alegra-te.
- Sabe-nos bem a beleza
- porque a sua dança volúvel
- é o ritmo das nossas vidas.
- Gostamos da sabedoria
- porque não temos sempre de a acabar.
- No eterno tudo está feito e concluído,
- mas as flores da ilusão terrena
- são eternamente frescas,
- por causa da morte.
- Irmão, recorda isto, e alegra-te.
Nenhum comentário:
Postar um comentário