sexta-feira, 14 de março de 2014

Rabindranath Tagore, grande mestre

 

As Coisas Transitórias
  • Irmão,
  • nada é eterno, nada sobrevive.
  • Recorda isto, e alegra-te.

  • A nossa vida
  • não é só a carga dos anos.
  • A nossa vereda
  • não é só o caminho interminável.
  • Nenhum poeta tem o dever
  • de cantar a antiga canção.
  • A flor murcha e morre;
  • mas aquele que a leva
  • não deve chorá-la sempre...
  • Irmão, recorda isto, e alegra-te.

  • Chegará um silêncio absoluto,
  • e, então, a música será perfeita.
  • A vida inclinar-se-á ao poente
  • para afogar-se em sombras doiradas.
  • O amor há-de ser chamado do seu jogo
  • para beber o sofrimento
  • e subir ao céu das lágrimas ...
  • Irmão, recorda isto, e alegra-te.

  • Apanhemos, no ar, as nossas flores,
  • não no-las arrebate o vento que passa.
  • Arde-nos o sangue e brilham nossos olhos
  • roubando beijos que murchariam
  • se os esquecêssemos.
  •  
  • É ânsia a nossa vida
  • e força o nosso desejo,
  • porque o tempo toca a finados.
  • Irmão, recorda isto, e alegra-te.

  • Não podemos, num momento, abraçar as coisas,
  • parti-las e atirá-las ao chão.
  • Passam rápidas as horas,
  • com os sonhos debaixo do manto.
  • A vida, infindável para o trabalho
  • e para o fastio,
  • dá-nos apenas um dia para o amor.
  • Irmão, recorda isto, e alegra-te.

  • Sabe-nos bem a beleza
  • porque a sua dança volúvel
  • é o ritmo das nossas vidas.
  • Gostamos da sabedoria
  • porque não temos sempre de a acabar.
  • No eterno tudo está feito e concluído,
  • mas as flores da ilusão terrena
  • são eternamente frescas,
  • por causa da morte.
  • Irmão, recorda isto, e alegra-te.

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