quinta-feira, 31 de janeiro de 2013

BBC


Conta-se que, na vida de um grande místico sufi chamado Farid, um rei foi visitá-lo. Ele havia levado um presente para ele, uma bela tesoura, feita de ouro e cravejada com diamantes – muito valiosa, muito rara. Ele tocou nos pés de Farid e deu a ele a tesoura. Farid pegou-a, olhou para ela, e a devolveu ao rei dizendo: “Senhor, agradeço profundamente o presente que você me trouxe. É lindo, mas absolutamente sem utilidade para mim. Seria melhor se você pudesse me dar uma agulha. Não preciso de tesoura, uma agulha servirá.




O rei disse: “Eu não compreendo. Se você precisa de agulha, irá precisar de tesoura também.”

Farid disse: “Estou falando em metáforas. Não preciso de tesoura pois ela serve para cortar e separar coisas. Preciso de uma agulha porque uma agulha junta as coisas. Eu ensino o amor. Todo meu ensino está baseado no amor – colocar as coisas juntas, ensinar as pessoas comunhão. Preciso de uma agulha para que possa juntar as pessoas. As tesouras são inúteis. Elas cortam, desconectam. Da próxima vez que vier, basta trazer uma agulha comum.”



A lógica é como uma tesoura: ela corta, divide as coisas. A mente é uma espécie de prisma – passe um raio de luz branca por ela e imediatamente será dividido em sete cores. Passe qualquer coisa pela mente e você terá uma dualidade. A vida e a morte não são a vida-e-a-morte, a realidade é vidamorte. Deveria ser uma única palavra, não duas, e nem mesmo ter um hífen entre elas. Vidamorte é um fenômeno. Amoródio é um fenômeno. Escuridãoluz é um fenômeno. Negativopositivo é um fenômeno. No entanto, ao passar este fenômeno único através da mente, o que é uno é imediatamente dividido em dois. Vidamorte se torna vida e morte, não apenas são divididas, mas a morte se torna antagônica à vida. São inimigas. Agora você pode ficar tentando fazer com que as duas se encontrem, mas elas nunca vão se encontrar.



Kipling está certo: “O Oriente é o Oriente e o Ocidente é o Ocidente e nunca os dois irão se encontrar.“ Em termos lógicos, é verdade. Como o Oriente pode encontrar o Ocidente? Como o Ocidente pode encontrar o Oriente? Mas, existencialmente, não faz o menor sentido. Eles se encontram o tempo todo. Por exemplo, se você está sentado na Índia: é Oriente ou Ocidente? Em relação a Londres, será Oriente. Mas, em relação a Tóquio, será Ocidente. Então, o que são exatamente, Oriente e Ocidente? Em cada ponto os dois se encontram, e ainda assim Kipling diz: “Nunca os dois irão se encontrar”. Mas os dois estão se encontrando o tempo todo. Não há um único ponto onde não haja ao mesmo tempo Ocidente e Oriente e não há um único homem no qual estes não se encontrem. Não pode ser de outra forma: eles têm que se encontrar – só existe uma realidade, um único céu.

Osho





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