sexta-feira, 6 de setembro de 2013

Ouço


Ouço
e uma página dentro de mim
vê o que não vê

Segue o espaço de um contorno
de alguém que me abandona
para voltar

Segue os passos
ouço

Certo que estou aqui
um outro dentro de mim
que deste não conheço

Estremece ao ouvir a voz

Ouve

que deste não conheço
apenas ouço

Falo de tudo por mim mesmo
sentindo a perceber

que este outro não sou eu
é outro dentro do eu
que sou eu

Uso o que posso
daquele que pode
me ouvir

E no silêncio ousar falar
o que não quero ouvir

Este ser não pode ser
aquele que me atrai para
o profundo
sem antes a dúvida do mundo
sobre o que ser

Por isto ouço

Falo de tudo até ficar mudo

repito
repito-me

Então diz-me Ele

Ouça

Um murmúrio
Um roçar em minha fronte
na nuca
no semblante confuso

Imperceptível

Uma mão em minha mente


Arrepio
me

Ele está aí

Fala pouco e ouve muito
Ouve o que não sei que falo

pois falar é muito
mas pouco para o que tenho a dizer

E Ele ouve

Quando fala diz apenas

Ouça

Eu vivo deste outro dentro de mim
A morte vai encontrá-lo
ao meu lado

E partindo do fim
no começo ouvirei

Aquele que então
sempre disse

Ouça

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