quinta-feira, 20 de janeiro de 2011


A HISTÓRIA DA FORMIGUINHA

Foi assim...

Num tempo bem distante, lá pelo começo dos anos 80, estava eu a procura do primeiro Ácido Lisérgico. Fiquei uns dois anos esperando que alguém me apresentasse o “tar do ácido” até que um dia meu amigo disse que tinha encontrado um canal, e compramos.

Saímos naquele sábado em direção a praia, eu, meu amigo e mais duas amigas em um Fiat 147.
Horas de viagem, passando por praias lindas indo para Maresias, nosso local escolhido.
Maresia naquela época não tinha estrada. Nós fomos pelas praias, passando de tempos em tempos por pequenas saídas de riachos que desembocavam no mar. Em uma delas, na passagem do carro entrou água no motor e molhou as velas...
Um tempão para conseguir fazer o 147 funcionar!

Quando chegamos enfim a Maresias e tomamos o ácido a viagem começou.
Ficamos juntos por um tempo e depois cada um foi para um lugar sozinho passear.
Eu fui o último a sair de debaixo da árvore em que estávamos depois de muito tempo viajando de olhos fechados.
Vinham lembranças alucinadas de infância, principalmente de meu avô, mas eram coisas bem gostosas.

Quando finalmente saí de debaixo da árvore caminhei até a praia e me sentei em uma duna aonde a vegetação começava a acabar e a areia a dominar.

Fiquei lá por muito tempo, observando o céu e o mar, as montanhas em volta da praia e a beleza toda do lugar.

De repente comecei a fazer um buraco na areia, bem perto das últimas plantas.
Fiz como na minha infância, quando construía castelos na areia.
Um buraco simples, uns dois palmos de fundura, na areia seca e úmida mais para baixo.

Lá estava eu viajando naquele buraco quando passou uma formiguinha, que sem se importar com o buraco a frente entrou por um lado, passou até o fundo e começou a subir pelo outro lado.

Eu, como criança malvada, antes da formiguinha sair do buraco empurrei um pouco de areia.
A formiguinha escorregou para o fundo do buraco e incontinente e valente começou a subir de lá.
Fiz outra vez. A formiguinha caiu e começou a subir.
Fiz mais e mais vezes viajando na formiguinha (ou viajando que era um deus?)
Colocava a formiguinha no buraco empurrando a areia logo antes de ela acabar por sair.
A valente formiguinha nem fazia conta e punha-se a subir
Outras vezes experimentei de soterrar a formiguinha, e ela, formidável formiguinha, conseguia se desvencilhar daquele humano tolo, saia do fundo da areia recomeçava a subir novamente.

Um momento percebi que conversava com a formiguinha e senti que a amava muito.
Disse para ela; vai formiguinha... e a formiguinha pegou e saiu do buraco e continuou sua labuta, provavelmente dizendo Ufa!!

Por muitos anos pensei na formiguinha quando eu mesmo caí no buraco das alucinações espontâneas dos flashbacks.
Cada vez em que estava para sair do buraco parecia que escorregava e caia de novo.

Deus não é como os deuses humanos.
Um dia ele me tirou do buraco.
E eu, a formiguinha, continuo na labuta dizendo

UFA!!!

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