sábado, 7 de agosto de 2010

CASTELOS NA AREIA

Verão, férias escolares.
David acordou.
Naquele dia tão especial algo marcante precisava ser feito.
Algo que ele guardasse para sempre, que mostrasse aos outros o quanto de sua inteligência de engenheiro era capaz.
Ao sair da cama antes do café já havia arquitetado todo o plano.
Decidido, construiria o Castelo. Não um castelo, mas “O Castelo”.
O maior castelo já feito em toda a sua vida.

A praia o chamava. Às oito horas posse ao trabalho.
A pá, o balde, os soldadinhos reunidos, todos receberam suas ordens.
Juntos, sobre seu reino escavaram os alicerces.
Não muito longe das águas por estar seco,
Não muito perto.
para que o mar, à distância,
contemplasse sua obra.

Ploc, Ploc, Ploc .

Caindo, as gotas de areia molhada e salgada há formar o Castelo.
Torres altaneiras, com suas donzelas e Barões. Um fosso, outro mais.
Mais muralhas, mais donzelas e Barões.
Torres com guardas cuidando o Castelo, e bandeirolas apontando para o Infinito.
Mais torres, mais guardas e estandartes.
No páteo, os gritos dos cavalariços e pajens.
Campeões afiando suas espadas e trocando golpes para se exercitarem.
Relincho dos corcéis de guerra, com seus cavaleiros montados, a postos para as batalhas!

No sol a pino do meio dia era o maior Castelo do Universo.
Ninguém haveria de construir algo tão grandioso!
Comeu seu banquete feliz, realizado com a obra de suas mãos triunfantes.
Os que passavam na praia observavam aquela maravilha, admirados com o poder do Rei.

Então, ao meio da tarde, a maré.
As ondas batiam e espumavam como hordas de bárbaros,
lentamente se aproximando de seus domínios de criança.

David lutou com todas as forças contra aquele Golias.
Para detê-los seus guardas cavaram mais fossos, mais torres, mais areia.
Em cada bravo de seu exército duas mãos fortes combatiam a ruína.

Ao por do sol sua Mãe veio chamá-lo.
Cansado, David entregou-se e deixou o campo de batalha.

No último olhar para trás,
Ao cair da derradeira torre,
seu castelo deixou de existir.

Não mais Soldados, não mais Barões.
Não mais Princesas nem Dragões.

Na orla do mar,
um imenso monte de areia amorfa
lentamente se dissolvendo no retorno à matéria inerte,
destituída de sonhos.

Seu coração constrangeu-se ante aquele momento.
Algo que não podia explicar.
A Eternidade carregando sua infância.

Era seu aniversário.
Tinha então onze anos.


Ernesto Lima

Nenhum comentário:

Postar um comentário